Inexorável

domingo, abril 17, 2005

Conclave

A palavra conclave tem origem nos termos latinos "cum" (com) e "clavis" (chave), e foi adoptada no século XIII depois da morte do papa Clemente IV, quando os cardeais deixaram vaga a Sé apostólica durante mais de dois anos. A situação levou o governador de Viterbo (Itália) a trancar os purpurados no palácio até que a eleição fosse encerrada, ideia transformada em lei depois por Gregório X no segundo Concílio de Lyon, em 1274.
A primeira assembleia de cardeais, semelhante ao que hoje é conhecido como conclave, foi realizada no entanto em 1118, quando os purpurados se reuniram em segredo no mosteiro de Santa Maria in Pallara, no Monte Palatino, para eleger, longe das pressões políticas, o papa Gelásio II, um beneditino.
No pontificado Alejandro III (1159-1181), durante o Concílio de Latrão, realizado em 1179, foi aprovada a constituição "Licet de vitanda", que pela primeira vez fixou a regra dos dois terços dos votos para a eleição do pontífice e tornou o voto uma exclusividade dos cardeais.
Um século depois, em 1241, foi realizado o que alguns historiadores chamaram de o conclave do terror, no qual os cardeais foram trancados durante 60 dias diante do assédio do imperador Federico, que pretendia impor o seu candidato. Durante o período de reclusão, alguns purpurados adoeceram e um morreu. Deste conclave, saiu eleito o papa Celestino IV. O seu pontificado durou apenas 17 dias devido ao desgaste sofrido durante a assembleia, que o levou à morte.
O Conclave de Viterbo, em 1268, elegeu o papa Gregório X, que regulou através da constituição "Ubi Periculum", de 1274, a eleição. A partir desse momento ficaram estabelecidos um período de dez dias da morte do pontífice até o começo do conclave e a obrigação de as sessões da assembleia serem realizadas a portas fechadas e em uma única sala. O segredo em torno das deliberações foi garantido com a ameaça de excomunhão para aqueles que tentassem se comunicar com os cardeais.
O efeito da "Ubi Periculum" foi imediato, já que no conclave seguinte - realizado em Arezzo, em 1276, do qual saiu eleito Inocêncio V - durou apenas um dia. Até aquele momento havia sido o mais curto da história e continuou ostentando a marca porque, dois anos depois, a constituição foi abolida e os conclaves voltaram a ser longos.
Outro conclave importante foi o de 1288, no Palácio dos Papas, no Monte Aventino, no qual os cardeais foram vítimas de uma peste que provocou a morte de seis eleitores e o adiamento da eleição sem que a assembleia fosse interrompida formalmente. Os purpurados abandonaram o local e restou apenas um para guardar o palácio, Gerolamo d'Ascoli, o que deixou a Sé vaga. Com a volta dos purpurados, o cardeal foi eleito papa, assumindo o nome de Nicolau IV.
Em 1292, a Sé ficou vaga durante dois anos, três meses e um dia. Diante da situação anormal, Pietro Damarrone, frade beneditino, interveio enviando uma mensagem aos doze eleitores na qual os chamou ao serviço da Igreja. Estes elegeram-no Pontífice em 1294, em Perusa. Damarrone adoptou o nome de Celestino V.
No início do século XIV, com o colégio cardinalício dividido entre os partidários e contrários à França em 1305, foi realizado, em Perugia, o conclave que elegeu Clemente V, que depois de receber a tiara em Lyon, decidiu levar a Sé para Avignon (França).
A assembleia seguinte, realizada em Roma, em 1378, ocorreu em meio a uma grande tensão devido ao motim levantado pelos romanos, que exigiam um papa italiano e tiveram a causa atendida com a escolha de Urbano VI, que dirigiu a Igreja até 1389. Superadas as sucessivas crises de autoridade na Igreja, o Renascimento trouxe o desenvolvimento e estabelecimento da Roma papal, disputada por várias famílias italianas.
No conclave de 1492, que elegeu o papa Alejandro VI, 22 dos 23 cardeais eram italianos. Na época, o colégio cardinalício era dominado pelas grandes famílias italianas, como os Medici, os Farnesio e os Orsini. Esta situação degenerou a Igreja e tornou necessária sua reforma no conclave de 1532, quando 39 cardeais elegeram Adriano VI, o último pontífice não italiano até João Paulo II (1978-2005).
No século XVII, a Igreja católica atravessava um momento financeiramente ruim, o que possibilitou a intervenção das potências europeias (Espanha, França e Áustria), das quais dependia a eleição do papa, situação que se prolongou durante todo o século XVIII. No final deste século e depois das invasões napoleónicas, o papa Pio VI redigiu uma nova norma para a eleição do Pontífice, estabelecendo que, havendo necessidade, a eleição do novo papa poderia ser realizada antes dos dez dias estabelecidos e em qualquer cidade de um território que tivesse como soberano um rei católico e onde o maior número de cardeais pudesse se reunir. A partir dessas normas, foi feito um conclave em 1799 (e que terminou em 1800) em Veneza, no qual 35 dos 46 eleitores escolheram Pio VII.
No século XIX, os conclaves foram marcados pelos movimentos revolucionários que resultaram na unificação da Itália, para a qual o poder temporário do papa e o Estado Pontifício era um obstáculo. Nesta situação conturbada, o papa Gregório XVI, eleito em 1831, estabeleceu medidas excepcionais para a sucessão em conclave de urgência, fórmula usada para a escolha dois papas anteriores, Pio IX e Leão XIII, nos conclaves de 1846 e 1878, respectivamente.
Na eleição de Leão XIII, a primeira decisão tomada pelos cardeais foi o lugar de realização do conclave, para evitar uma possível intervenção do governo italiano. Embora muitos purpurados tenham falado na possibilidade de levá-lo para a Espanha, a assembleia foi realizada em Roma.
Entretanto, em 1996, o papa João Paulo deu um basta às privações dos cardeais e aprovou a Constituição Apostólica (lei constitucional da Igreja Católica) "Universi dominici gregis", que incluía a construção da Residência de Santa Marta, num custo de 20 milhões de euros, que abriga 120 confortáveis quartos e 20 salões, que serão usados para trocar ideias. Além disso, os cardeais poderão tomar conhaque para aplacar as emoções e champanhe para celebrar a vitória do papa eleito.
A Constituição Apostólica estabelece que as operações de voto devem continuar sendo realizadas na Capela Sistina e suprimiu a eleição do novo pontífice por aclamação ou por compromisso, reiterando que a única forma é o voto secreto.
O novo Papa será eleito por 116 dos 117 cardeais com menos de 80 anos, de um total de 180 cardeais vivos, reunidos numa experiência pela qual apenas dois deles passaram até o momento. Dos 117 cardeais, 114 foram nomeados por João Paulo II em nove consistórios, o último deles em 21 de Outubro de 2003, e os outros três foram consagrados por Paulo VI. Um deles, o cardeal filipino Jaime Sin, não poderá participar do conclave por razões de saúde.
posted by Manuel dos Reis at 17:02

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