Inexorável

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O primeiro português

Tenho andado afastado aqui do blog, muito trabalho e pouca disponibilidade, manter um blog está a revelar-se bem mais dificil do que me parecia inicialmente, retomo aqui para falar de um tema actual.
A RTP lançou um concurso de popularidade sobre figuras importantes da nossa história, apesar de este tipo de concurso dar azo a grandes disparates a verdade é que leva a que todos se perguntem: se tivesse que escolher um, qual escolheria?
É uma questão interessante e que mexe com a nossa alma patriótica, a nossa e a de qualquer não.
Eu não tenho duvidas, nem nunca as tive. Para mim o primeiro foi o maior de todos. Verdade que se discute e eu próprio reconheço que é forçado falar em cultura portuguesa no século XII mas pouco me importa, o que D. Afonso Henriques fez foi verdadeiramente grande, construiu um país a pulso, contra tudo e contra todos, fruto de muita vontade, muita coragem mas principalmente de muita inteligência. Lutou contra os mouros, contra o primo, Afonso VII, contra própria mãe e contra a toda poderosa Igreja Católica. Fundou um país e deixou para sempre uma matriz que nos acompanha até aos dias de hoje, que sozinhos somos capazes de fazer muito. Uma realidade que se tem vindo a revelar dolorosa, unidos pouco fazemos.
Deixo aqui uma breve biografia.
Filho do conde D. Henrique e da infanta D. Teresa.
Terá nascido em Coimbra e foi, possivelmente, criado em Guimarães onde viveu até 1128.
Tomou, em 1120, uma posição política oposta à de D. Teresa (que apoiava o partido dos Travas), sob a direcção do arcebispo de Braga. Este forçado a emigrar leva consigo o infante que em 1122 se arma cavaleiro. Restabelecida a paz, voltam ao condado. Entretanto novos incidentes provocam a invasão do condado portucalense por D. Afonso VII, que, em 1127, cerca Guimarães onde se encontrava D. Afonso Henriques. Sendo-lhe prometida a lealdade deste, D. Afonso VII desiste de conquistar a cidade. Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de D. Teresa defrontam-se com as de D. Afonso Henriques tendo estas saído vitoriosas – o que consagrou a autoridade de D. Afonso Henriques no território portucalense, levando-o a assumir o governo do condado.
Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder este concentrou os seus esforços em dois planos: Negociações junto da Santa Sé com um duplo objectivo: alcançar a plena autonomia da Igreja portuguesa e o reconhecimento do Reino.
Os passos mais importantes foram os seguintes:
Fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, em 1131, directamente subordinada à cúria romana – fundação que propiciou a reunião das dioceses portuguesas à metrópole de Braga;
declaração de vassalagem por parte de D. Afonso Henriques à Santa Sé em 1143 – em virtude de uma nova fase da sua política iniciada com o use do título de rei; obtenção da bula de 1179, na qual o papa Alexandre III designava pela primeira vez D. Afonso Henriques rei a ao qual dava o direito de conquistar terras aos Mouros sobre as quais outros príncipes cristãos não tivessem direitos anteriores;
pacificação interna do reino e alargamento do território através de conquistas aos Mouros – o limite sul estabelecido para o condado portucalense – e assim Leiria em 1135, Santarém e Lisboa em 1147 – quer mesmo para além deste, sempre que isso não viesse originar conflitos com o Imperador – e assim Almada e Palmela em 1147, Alcácer em 1160 e quase todo o Alentejo (que posteriormente foi de novo recuperado pelos Mouros).

Ficha genealógica:
D. Afonso Henriques, nasceu possivelmente em Coimbra, em 1109, e faleceu em Coimbra em 8 de Dezembro de 1185. Casou em 1145/1146 com D. Mafalda, que nasceu em data incerta, e morreu em Coimbra a 4 de Novembro de 1157, ficando sepultada no Convento de Santa Cruz; filha de Amadeu II, conde de Sabóia e Piemonte, e da condessa Mafalda de Albon. Tiveram os seguintes filhos:
1. D. Henrique, nasceu a 5 de Março de 1147 e morreu jovem;
2. D. Sancho, que herdou a coroa;
3. D. João, nasceu e morreu em data incerta;
4. D. Urraca, nasceu em Coimbra, por volta de 1150, e casou com D. Fernando II, rei de Leão, por 1165; sendo repudiada em 1179; faleceu em ano incerto;
5. D. Mafalda, nasceu em Coimbra, em ano incerto; noiva do conde D. Raimundo de Berenguer, filho do conde de Barcelona, em 1160; faleceu pouco depois;
6. D. Teresa, nasceu em ano incerto; casou com Filipe de Alsácia, conde de Flandres, por volta de 1177; faleceu depois de 1211, em Furnes);
7. D. Sancha, nasceu e faleceu em data incerta.
O monarca teve os seguintes filhos bastardos:
8. D. Fernando Afonso, referido em documentos de 1166 a 1172;
9. D. Pedro Afonso (n. e f. em data incerta), por muitos considerado também irmão do monarca, pois tomou parte na conquista de Santarém e esteve em Claraval antes de 1153.
10. D. Afonso, nasceu em ano incerto; mestre da Ordem de S. João de Rodes, de 1203 a 1206; faleceu em 1 de Março de 1207; 11. D. Urraca, que nasceu e faleceu em data incerta.
posted by Manuel dos Reis at 21:51

2 Comments:

Partilho da tua opinião em relação à personalidade escolhida. D. Afonso Henriques, para além de personalidade real, é também a única das 10 que é igualmente mítica: se temos um mito fundador da nossa nacionalidade, ele encarna-o.
Camões também não me repugnaria se ganhasse, mas agora ver tipos como Aristides, Cunhal ou Salazar a par de quem lhes talhou com o montante as fronteiras de um país... choca-me, no mínimo.

11:14 da tarde  

Obrigado pelo teu comentário. Gostei da frase "se temos um mito...", é de facto um começo fantástico para um país, não conheço história medieval mais bonita do que a vivida pelo nosso primeiro Rei. Desde o pai que ficou "mal servido" por Afonso VI em relação a D. Raimundo a um filho que a pulso teve de construir o seu próprio espaço.
Por piada costumo contar aos meus alunos mais novos que Afonso VII quando era pequenino gozava com o primo dizendo que ele ia ser ser e que D. Afonso Henriques não, este iria chorar para as saias da mãe que queria também ser Rei mas que a mãe defendia sempre o primo, tal facto terá provocado em D. Afonso Henriques a energia para lutar para ser Rei... entre outras peripécias... os miudos nunca mais se esquecem da história, acham um piadão.
Gostaria de ver tal história, desde a chegada à penincula de D. Henrique à morte d D. Afonso Henriques, retratada em filme, ao estilo de BraveHeart...

10:23 da tarde  

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